quinta-feira, 20 de maio de 2010

Dois dias no Centro Velho

- GCM no Municipal e no Viaduto do Chá. PM na Praça da República. Sensação de segurança? Um pouco, não muito.

- Pouca gente na rua. Passeando, fotografando, rezando. Sim, trabalhando também.

- Perto da Bovespa. O cheiro de urina era insuportável.

- Viaduto Santa Efigênia. Crianças jogavam bola, jovens ouviam música e passavam o tempo. Sob os arcos amarelos, muito movimento.

- Um(a) pedinte alucinado(a) se mostrava mais lúcido(a) que muita gente.

- Um leite com chocolate, uma coxinha e uma garrafinha de água mineral na cafeteria bem arrumada. TV ligada no jogo mas ninguém perdia tempo com isso.

- Viciados em crack. Muitos. Olhares perdidos mas atentos em nosso equipamento.

- Pregador falando sozinho na frente do antigo prédio do Mapping. Tradição que nunca muda.

- Poucos carros. Nenhum trânsito. Gritos apenas entre amigos.

- Calçadão estreito, medieval. Isso aqui um dia já pareceu a Europa.

- As ruas ou são datas históricas ou lembram os nomes de quem as fez.

- O patriarca está de costas para a sua praça. Por isso a cara sisuda.

- Grandes Galerias. Da época que shoppings centers não eram tão procurados.

- Prédios antigos, mal conservados. Na proporção de 3 para 1 em relação aos bem cuidados.

- Arquitetura clássica ao lado do prédio comercial moderno.

- Na igreja. Sem fotos, por favor, diz o segurança.

- Na outra, nem precisou dizer.

- Municipal coberto de andaimes. Tapumes grafitados pra evitar a pichação.

- Flanelinha pede para olhar o carro. Não apareceu para pegar o dinheiro.

- O cinema fechou. A lanchonete ainda está lá. Afinal, é franquia.

- Gente dormindo empilhada. Ninguém faz nada.

- Banca de jornais aberta cheia de pessoas. Fechada, vira sanitário.

E, lá de cima, o prédio branco olha aquele vai e vem de domingo.


Texto originalmente publicado no Mínimas Ideias.

sábado, 10 de outubro de 2009

Quem pergunta...


Para quem já ouviu coisas assim:

1 - A marca do seu equipamento faz videogames, não câmeras fotográficas.
2 - Será que essa "camerazinha" vale tanto dinheiro assim?
3 - Quantos megapixels tem sua máquina?
4 - É de filme? Que coisa velha!
5 - É o amador que acaba com a profissão!

Sabe que cada uma destas questões merece uma boa resposta:

1 - Quem tira a foto é o fotógrafo, e não a câmera ou a empresa que fabrica.
2 - As vezes vale. Outras não. Só conhecendo para saber.
3 - O suficiente para justificar uma lente de boa qualidade.
4 - É bom, porque foge dos modismos.
5 - Tudo que fica parado durante muito tempo, e não se reinventa, banaliza qualquer área ou função.

Portanto, fotografia não é um exercício de ideias pré-concebidas e risíveis, mas uma forma de comunicação que, instigando ao mesmo tempo a crítica e a sensibilidade do autor e do espectador, fomenta o conhecimento e mitiga o preconceito.


Olhe bem antes de pensar. E pense bem antes de falar.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Cuidado com o que você aponta



É interessante saber o quanto uma lente incomoda algumas pessoas.

É muito provável que a grande maioria dos fotógrafos colecione relatos de ações truculentas de seguranças, repetidos "nãos" de fotografáveis ou mesmo algumas ofensas por parte de pessoas que desconhecem o trabalho de um profissional.

Ou sabem, e tem medo disso.

Em todo o caso, o bom senso limita a ação da fotografia mas não chega a cercear a liberdade de cada profissional em realizar seu trabalho com responsabilidade.

Claro, existem excessos de ambos os lados.

Por um lado...
Não é raro ser abordado por seguranças, públicos ou privados, durante uma saída fotográfica. As abordagens variam desde as mais educadas até a tradicional "mão na lente". As justificativas também variam: aqui não pode, só com autorização, hoje não abre, assine aqui e desculpe o incômodo, pode mas sem flash, a barra tá pesada e é melhor ficar longe.

Por outro lado...
O termo "paparazzo" deveria ser considerado chulo. Mas há um mercado que sustente esta prática, ou melhor, há uma demanda que justifica ostensivamente este tipo de trabalho. Boa parte da mística que afasta as pessoas das lentes nasce desta atividade.

Por isso é sempre bom saber antes de sair:
- ligue para o local e pergunte se é permitido fazer imagens, fale o tipo de câmera que está levando e se é necessário assinar alguma autorização;
- se tiver algum cartão de visita, leve;
- se abordado, mantenha a calma e a educação e resolva o assunto o mais rápido possível;
- se ouvir um "não", pense que seu equipamento vale mais do que uma imagem que não foi feita;
- propriedades autorais e artísticas, privacidade e intimidade devem ser respeitadas, sempre;
- apontar a câmera para uma pessoa, sem aviso, é falta de educação;
- bom senso e prudência tornam o trabalho mais sossegado.

sábado, 18 de julho de 2009

Os primeiros passos


Profissionais ou amadores.

A diferença entre os dois é simples: o primeiro fotografa por profissão; o segundo, por diversão.

Em comum, ambos dividem mais do que a paixão pela imagem congelada e esculpida pela luz. A busca pelo aprimoramento a cada nova foto é universal, as vezes natural, mas nem sempre uma meta constante.

Isso tende a afastar aqueles que dão seus primeiros passos no ofício. Ver o trabalho dos grandes nomes pode, ao mesmo tempo, fascinar e afastar o iniciante. Não por não ter meios de produzir com aquela mesma qualidade, mas por não saber como começar.

Vale alguns conselhos para deixar de lado o medo e começar uma carreira:

1º - Antes de gastar uma soma considerável em um equipamento caro, saiba que dinheiro não compra experiência.

2º - Em mãos experientes, uma câmera de celular pode registrar um momento tão bem quanto um equipamento top de linha. O que vale é o olhar e não por onde se olha.

3º - Os segredos de um equipamento são descobertos em seu uso em campo, muito mais do que lendo o manual em casa.

4º - Não existe tempo, temperatura ou qualquer condição climática para se conseguir uma boa imagem. Fazer grandes imagens em dias claros é fácil; genial é encontrar e registrar algo interessante em um dia feio.

5º - Leia. Leia. Leia.

6º - Perca seus preconceitos. Mas não a ética.

7º - Existem regras que regem as boas imagens. Depois que dominá-las, subverta-as!

8º - Sua produção merece receber críticas. Boas e más. Aprenda com elas.

9º - Existem boas imagens em todos os lugares. Aprenda a olhar (e ver) o que normalmente ninguém percebe.

10º - Paciência conta mais do que o acaso.

11º - Mantenha sempre seu equipamento limpo da terra, das sujeiras e da umidade. Você não.

12º - "Aprender" é uma das poucas regras constantes e imutáveis em toda a sua futura carreira.

Há mais caminhos para se começar na fotografia do que estes.
Basta um pouco de curiosidade.

terça-feira, 17 de março de 2009

Você conhece aquilo que você faz?

Foi no cinema que a expressão "referência" parece ter surgido, ou pelo menos tomado mais relevância. Quer dizer, na maioria dos casos, a repetição de uma situação ou cena conhecida como homenagem a um certo cineasta.

Para quem não se lembra, basta recordar as semelhanças entre as cenas das escadarias dos filmes Os Intocáveis, de Brian De Palma, e O Encouraçado Potemkin, de Sergei Eisenstein. Em ambos, além da escadaria, um carrinho de bebê desce sem controle sob fogo cruzado.


Esse "artifício" cinematográfico necessita de uma boa dose de conhecimento prévio da área onde se atua. Não só a informação técnica, mas também histórico. Em todos os ramos da arte, pode se dizer que existe a necessidade de conhecer outras produções, obras, referências, estudos.

E a mais importante de todas: conhecer outros olhares.

Para a fotografia, não basta apenas o conhecimento técnico e prático. Algumas pessoas entendem que outros olhares, dos mais conceituados aos mais comuns, são dispensáveis ou significam perder tempo com algo totalmente improdutível.

Além do exemplo das referências cinematográficas, dispensar o estudo da história da imagem é como guiar um carro desconhecendo sua mecânica: a qualquer momento a falta de conhecimento pode comprometer um bom trabalho.

Fotografar não é apenas um exercício artístico ou de comunicação. É também de conhecimento histórico, de entendimento de suas raízes, das suas origem e funções, das suas referências, da sua trajetória histórica e, principalmente, de seus personagens.

Uma centena de profissionais atravessaram os anos testando novas técnicas. Eles erraram, acertaram, compreenderam o momento e transmitiram este conhecimento através de imagens ou em outras formas de relatos. Deixar estas informações de lado é negligenciar um legado de experimentações que está facilmente ao nosso alcance.

Está lá. É só buscar.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

FotoBiografia #1 - David "Chim" Seymour


David "Chim" Seymour e Henri Cartier-Bresson

"Chim picked up his camera the way a doctor takes his stethoscope
out of his bag, applying his diagnosis to the condition of the heart;
his own was vulnerable."
Henri Cartier-Bresson



Nascido David Szymin em novembro de 1911, na Polônia, um dos fundadores da lendária agência Magnun começou na fotografia em 1933, depois de estudar artes na França e quase enveredar pelos estudos de química e física.

Suas primeiras imagens foram de uma Europa agitada, intensa e em seus estágios preparatórios para a Segunda Guerra Mundial. Cobriu a Guerra Civil Espanhola, ao lado de Robert Capa, para a Revista Life, antes de se alistar nas tropas aliadas e partir para a guerra de câmera em punho.



A Magnum apareceria na vida de "Chim" em 1947, quando se uniu a Henri Cartier-Bresson, Capa e George Rodger para fundar a agência. Continuou em atividade, fotografando desde celebridades até a criação do estado de Israel. Mas a necessidade de cobrir causas humanitárias o fez continuar viajando.



Durante o pós guerra, "Chim" recebeu um convite da recém inaugurada Unicef para voltar à Europa e retratar o drama dos refugiados, principalmente as crianças - tema recorrente em suas fotos dali em diante. Produziu as memoráveis séries We Went Back e Chim's Children.



Em 1954, substituiu Capa na presidência da Agência, mas viria a morrer dois anos depois, em um atentado durante o armistício da Guerra de Suez.


Para conhecer mais, vale a pena visitar aqui e aqui.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

O retrato da crise

O fotojornalismo, em seu exercício mais esclarecido, é uma forma particular e precisa sobre o contexto histórico.

Não é apenas a ilustração de uma matéria. É, por si só, o fato contado através de imagens.

Em nosso momento atual, a crise de confiança nos mercados globais anda gerando situações que entrarão para a história da imagem.

O prêmio principal da 52ª edição do World Press Photo retrata bem a falência de uma era. Mostra um policial, armado e em posição de tiro, procurando algum remanescente de um despejo nos EUA.

Nada da guerra no Iraque, Afeganistão ou África. Um misto de paranóia, desconfiança e excesso.

A imagem é de autoria de Anthony Suau.

Crise de credibilidade. Não crise de sensibilidade.

Veja os vencedores aqui!